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Ana Comes já reagiu à detenção de Luis Filipe Vieira, em declarações à SIC Notícias.
“Acho que já tardava [a detenção]. Para mim isto não foi sobre futebol, ainda que também tenha a ver com a sanidade do futebol. Todos sabemos como o futebol, tanto ao nível nacional como internacional, tem sido permeável à manipulação dos próprios resultados e à instrumentalização para outros efeitos”.
Mas são esses outros efeitos que sempre me preocuparam no nosso país: a captura do Estado e de instituições do Estado. Não é por acaso que a direção deste clube, este indivíduo e outros da teia a que ele está ligado, sempre se preocuparam em rodear-se de advogados, financeiros, políticos e até juizes. Havia listas de magistrados que recebiam bilhetes para jogos para o Benfica. E não eram pelos seus lindos olhos
“Este caso tem por trás um polvo gigantesco, mas que não envolve apenas este clube em particular. Este presidente foi à comissão de inquérito do parlamento dizer que estava ali por ser presidente do Benfica e os deputados disseram-lhe, e bem, ‘não o senhor está aqui por ser um grande devedor à banca’. Este polvo tinha a cabeça no BES, em Ricardo Salgado e nos seus acólitos”.
Depois continuou com a ideia da “teia”, em torno de várias áreas:
“Isto importa pelas suas implicações do futebol mas também ao nível das instituições do Estado, porque era uma teia de captura de instituições do Estado. Neste caso concreto o presidente do Benfica tinha um historial, tentou sempre negá-lo. Aliás, chegou a ameaçar-me com um processo, nunca chegou a pô-lo, claro, porque eu estava a dizer a verdade. Em 1993 ele foi condenado pelo roubo de um camião, em coautoria com outras pessoas, uma coisa que tinha acontecido em 1984. A justiça tinha de saber isto. Já pelo BPN foi arguido por causa de 23 milhões de dívida, depois há todos aqueles casos, ‘Porta 18’, os Emails, os Vouchers, o E-Toupeira, a Operação Lex… Tudo relacionado em última análise como BES. No parlamento ele confessou que era testa de ferro de Ricardo Salgado! E nem falo dos adeptos do clube porque o clube acabou por ser uma vítima. Como é que tanta gente tolerou isto? Designadamente na política, tivemos aquela cena tristíssima de termos o primeiro ministro, António Costa, a prestar-se a ser membro da comissão de honra deste presidente deste clube e depois até ser removido face à polémica que se gerou na opinião publica pelo próprio”…
Por fim, uma palavra de apreço para Rui Pinto e para a importância do projeto “Football Leaks”, deixando uma premonição…
“São os grandes clubes e os grandes partidos que são objeto de infiltração destas redes mafiosas. Metem pequenos clubes ao barulho, para serem ecrãs de esquemas de lavagem de dinheiro, burlas, etc. Neste caso parece-me que as implicações estão para além dos personagens ligados ao clube e espero que a justiça faça o seu trabalho. Estou farta de ver prisões espectaculares, mas também libertações espectaculares, como aconteceu esta semana com Joe Berardo, em que nem sequer a prisão preventiva foi pedida. Espero, e nunca quis outra coisa, que a justiça seja feita. Não tenho dúvida nenhuma que foram muito importantes aqui as revelações do Football Leaks, feitas pelo Rui Pinto. E acho que a procissão ainda vai no adro…”
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