Conceição é um homem e um treinador extremamente frontal. Fala de todos os temas e não se esconde perante perguntas. Todos os temas são tratados com normalidade, mas há um tema que fala pouco e que mexe verdadeiramente com ele: a morte dos pais.
Fátima Campos Ferreira foi buscar este lado um pouco mais pessoal e Sérgio Conceição mostrou o homem, e não apenas o treinador.
“Lembro-me de chegar muito feliz a casa e o dia seguinte ao meu primeiro contrato com o FC Porto foi marcante, porque perdi o meu pai. São momentos muitos marcantes. Foram chamar-me ao café da aldeia, disseram-me que tinha tido um acidente e que estava mal. Correu da pior maneira e essa foi a maior dificuldade: perder uma pessoa que amo muito”.
“Dois anos depois perdi a minha mãe e estive quase para deixar de jogar futebol, para desistir. A minha mãe teve muitos problemas durante a sua vida, agudizados com a morte de um irmão meu com 12 anos, eu tinha quatro, e ela viveu em constante sofrimento, não só pela dificuldade da vida no sentido financeiro, mas também pela perda de um filho. Foi muito marcante para ela. Estes momentos foram muito marcantes na definição do meu caráter”.
“Acho que os meus pais estão felizes comigo e com a minha vida. E isto não tem que ver com este mediatismo todo, estas conquistas de títulos. Tem que ver com a minha forma de ser e pelo amor que tenho por eles, por todos os dias me lembrar dele e lhes agradecer todo o esforço que fizeram por mim e pelos meus irmãos. É o reconhecimento diário e vivo com isso. Ainda não consegui a tranquilidade. Luto para a conseguir, mas este lado mais negro que está dentro de mim continuará até aos últimos dias da minha vida. É uma frustração sentir que os meus pais fisicamente não estão presentes e que mereciam, nem que fosse por um dia. Acho que conseguia eliminar este lado negro se tivesse apenas uma hora, um minuto, um dia com eles”.