Pena, avançado brasileiro que jogou no FC Porto, deu uma longa entrevista ao MaisFutebol e revelou dados que até então ninguém conhecia, pelo menos os adeptos.
O ponta de lança brasileiro chegou do Palmeiras (com uma passagem de um mês por Espanha) para substituir o grande Super Mário Jardel e deixou água na boca aos adeptos logo no arranque. Pena detém até hoje o recorde de jogos a seguidos a marcar por um jogador em estreia no FC Porto: FORAM 9! Na primeira época, Pena fez 29 golos marcados e foi o melhor marcador. Na segunda época tudo mudou e Pena explicou as VERDADEIRAS razões desse declínio. Não, o jogador não desaprendeu, foi bem mais grave, mas o avançado só tem elogios para o FC Porto.
Abaixo vou transcrever apenas os momentos em que Pena revela o que se passou, mas se quiseres ler (e ver) entrevista completa, podes fazê-lo aqui: https://maisfutebol.iol.pt/destinos/pena/tive-uma-depressao-no-fc-porto-o-meu-agente-roubou-me-540-mil-euros
“MaisFutebol – A esta distância consegue explicar a grande quebra de rendimento que teve da primeira para a segunda época?
Pena – Há coisas que ninguém sabe. Eu vou contar estas histórias pela primeira vez, ninguém imagina. Primeiro: tive uma pubalgia muito grave a meio da segunda época, mas havia poucas opções e pediam-me sempre para jogar. Eu levava dez injeções por semana para as dores e para a inflamação. Não estava bem fisicamente e o meu forte era o físico. Quem tem pubalgia percebe o que digo. Eu chegava a casa e tinha de colocar três sacos de gelo, as dores eram insuportáveis. Diziam que eu saía à noite, inventavam motivos e não era nada disso. Fui a 10/12 testes de doping, queriam apanhar-me, mas nunca fui apanhado porque não havia nada. Eu corria porque era mesmo assim e só deixei de correr por culpa deste problema. Eu nunca tinha jogado com pitões de alumínio, altos, e isso rebentou a minha parte muscular. Não tenho nada a apontar ao departamento médico, ajudavam-me dentro do possível, mas o problema é que eu parava.
MaisFutebol – Nunca pensou em ser operado?
Pena – Não havia tempo para isso, eu tinha de jogar. Hoje os jogadores queixam-se por isto ou por aquilo, queixam-se muito. Eu jogava sempre. Está a ver isto? [Pena mostra a mão] Fui pisado num jogo da taça, abriram-me isto tudo e as cicatrizes estão aqui. Sabe o que eu fiz? Peguei numa toalhinha e joguei até ao fim. Hoje isso não existe. Vi muitos colegas a jogarem lesionados também. Ainda bem que estou vivo para ver a evolução. No meu tempo íamos até à morte, para o pau, não me arrependo de nada.
MaisFutebol – Os seus problemas foram só físicos?
Pena – Infelizmente, não. Vou contar isto também pela primeira vez. Eu estava a fazer uns investimentos no Brasil quando cheguei ao FC Porto e por isso pedi adiantado o dinheiro dos meus dois primeiros anos de contrato. 300 mil dólares pelo primeiro ano e 350 mil dólares pelo segundo ano, não tenho problema nenhum em divulgar as verbas. Recebi esses 650 mil dólares [540 mil euros no câmbio atual] para construir 14 apartamentos e depois vender ou arrendar.
MaisFutebol – O que correu mal?
Pena – Eu tinha outro empresário na época, além do Minguella. Nós fomos fazer um jogo da Liga dos Campeões, esse empresário ficou com o dinheiro para depositar na minha conta e nunca depositou. Até hoje. O FC Porto foi fantástico, aceitou fazer esse pagamento adiantado, só me queriam ver motivado. Quando cheguei da viagem, muito satisfeito, esse gajo roubou todo o meu dinheiro. ‘Não te roubei, vou dar-te o dinheiro’. Nunca mais. Desapareceu, não atendeu mais o telemóvel. Eu tinha assumido grandes compromissos na minha cidade – construtoras, empreiteiros – e não consegui cumprir o que estava acordado. Colocaram-me na Justiça. Se eu tivesse ido lá nessa altura, de certeza que seria preso.
MaisFutebol – Mas como é que o dinheiro acabou nas mãos desse senhor?
Pena – O FC Porto transferiu o dinheiro para o Minguella e o Minguella, em vez de depositar numa conta minha, depositou na conta desse empresário e o homem fugiu. Nunca me pagou nada. Fiquei com a cabeça ruim. No verão de 2001 ainda fui à minha cidade, acertei algumas dívidas, amenizei as coisas, mas não tinha condições para pagar tudo. O investimento era alto e nunca esperei ser roubado dessa forma. Tive de me explicar à Justiça e mostrar que estava disposto a pagar tudo o que devia. Comecei a segunda época no FC Porto com a cabeça destruída.
MaisFutebol – Explicou ao clube o que se estava a passar consigo?
Pena – Expliquei, mas a culpa não era deles. Disseram algo assim: ‘Vamos indo e vamos vendo, não é possível pagar antecipado mais um ano de contrato’. A minha cabeça já não era a mesma, não estava concentrado, não estava a ser capaz de pensar em jogar. Havia coisas extra-campo que me estavam a prejudicar. O que me deixava mais triste é que as pessoas diziam que era a noite, era isto ou aquilo e não sabiam o que eu estava a passar. A minha mãe tinha morrido há poucos anos, perdi a amizade desse empresário que era um amigo próximo e roubou-me 650 mil dólares, um carro Mercedes e um apartamento em São Paulo. Pedi-lhe para adquirir esse apartamento e ele pôs as coisas no nome dele. Confiei e fui roubado. Mas eu não podia falar na imprensa.
MaisFutebol – Qual o nome desse empresário que o roubou?
Pena – Não posso dizer o nome. Ainda estou a responder por difamação, porque mencionei o nome dele num chat de amigos e ele soube. Fiquei chateado com ele e com o Minguella. Eu pedi-lhe ajuda e ele disse que já tinha transferido o dinheiro para a conta desse outro homem e que não podia fazer nada. Foi por tudo isto que eu não voltei a render o que rendi na primeira época no FC Porto. Não estava com cabeça, não tinha ajudas e havia pessoas a criarem confusão. Foi exatamente isso: a pubalgia muito grave e esse roubo que me deixou com uma depressão no FC Porto.
MaisFutebol – Não teve acesso aos documentos das transferências feitas pelo FC Porto e o senhor Minguella?
Pena – Os meus advogados arranjaram tudo e até hoje esse dinheiro desapareceu. Tive tanto azar que saí em 2002, imediatamente antes de o FC Porto ganhar a Liga Europa e a Liga dos Campeões com o Mourinho. Ficaram o McCarthy e o Derlei. Sem menosprezá-los, eu tinha nível para eles e com o Mourinho eu podia render dez vezes mais. O empresário não me tirou só o dinheiro. Tirou-me algo incalculável, roubou-me a minha carreira no FC Porto. Ele ficou com o dinheiro de dois dos cinco anos de contrato que eu tive com o clube. E quem estava de fora pensava que era por eu sair à noite…
MaisFutebol – Nunca tentou explicar-se através dos Media para os adeptos saberem a verdade?
Pena – Nunca quis, porque havia processos em tribunal. Tive uma grande conversa com o Macaco [líder da claque Super Dragões] na altura, para lhe explicar as coisas. Ele ficou muito surpreendido. ‘Carago, Pena, então era isso?’. Eu estava fora do meu país, queria poupar a minha família e acabei por me afundar. Eu não tive segundo ano, desci ao fundo do poço. Foi por isso que o José Mourinho me dispensou, ele sentiu que eu não tinha condições emocionais para jogar. Até assinei pelo Estrasburgo e financeiramente foi ótimo, mas fiquei com uma frustração enorme. Perdi a oportunidade de ser campeão da Europa com o FC Porto. Roubaram os meus sonhos, impediram-me de ser dois anos seguidos o melhor marcador do campeonato. Não tive estrutura emocional. Não aguentei, estourei, não conseguia pensar e não conseguia jogar. Não culpo o FC Porto de nada, sempre foi corretíssimo. Culpo é o Minguella, porque me devia ter ajudado e não o fez, e o outro empresário.
MaisFutebol – Os seus colegas de equipa no FC Porto estavam a par de tudo?
Pena – Poucos. O Deco, o Clayton, o Rafael e mais nenhum. Só mesmo os mais chegados. As pessoas só sabem que o Pena fez uma grande temporada e uma péssima temporada. Não sabiam os motivos e estou a contá-los hoje aqui. Felizmente reergui-me e hoje tenho uma boa condição financeira. Ficam as boas memórias. Quando estive no Dragão para ver o FC Porto, em 2019, liguei ao ‘chefinho’ Reinaldo para dizer que estava lá e ele, prontamente, pegou em duas credenciais e veio ter comigo e com o Clayton. Foi ele mesmo a receber-nos, colocou-nos as credenciais ao pescoço, deu-nos aquele abraço e não há dinheiro que pague isso. Isso é o melhor de tudo, nem um milhão paga essas amizades que eu fiz no FC Porto.
Pena, aproveito para fazer um meaculpa e por te pedir desculpa por todos os impropérios que te dirigi na segunda época, afinal havia um (forte) motivo. Ainda bem que voltaste a ter uma boa saúde finceira. SUCESSO. UMA VEZ DRAGÃO PARA SEMPRE DRAGÃO!”